Ainda propósito da revelação de conteúdos de escutas no âmbito do processo face oculta, divulgadas pelo SOL e Correio da Manhã do passado fim de semana, numa clara violação do segredo de justiça, contra a qual não se ouve uma voz, o Público, de 9 de Fevereiro, publica uma notícia intitulada "Pressão sobre Sócrates aumenta", escolhendo, para lead da noticia, uma expressão sintomática do tipo de jornalismo que se vai fazendo. Diz o Público que "A pressão sobre o primeiro-ministro para esclarecer as alegações sobre o controlo dos media já se faz sentir dentro do PS".
Como sou militante socialista fui, naturalmente, ler com curiosidade o que se estaria a passar de tão relevante dentro do meu Partido que justificasse tal comentário, com honras de primeira página. Procurei e verifiquei que, afinal, esse PS se resume ao ex-deputado Ventura Leite que, segundo o Público, seria o único a ousar falar, embora não sendo uma voz solitária, defendendo "que Sócrates deveria abandonar o Governo".
Confesso que fiquei perplexo porque, de facto, o ex-deputado Ventura Leite, que eu saiba, representa-se a ele próprio e não tem, que se conheça, qualquer papel relevante no seio do Partido Socialista, a não ser o facto de ser militante.
Para além de lamentar as declarações de Ventura Leite, embora lhe reconheça o direito de livremente espressar as sua opiniões, lamento que se preste a este papel de fazer declarações que só são publicadas porque dão jeito para justificar uma tese, a saber, que o descontentamento graça dentro do PS. E lamento, ainda mais, que um jornal como o Público, confunda a opinião de um ex-deputado, que se tornou conhecido no Parlamento, não tanto pelo que fez, mas por ter "ousado" ter uma posição critica relativamente a um dossier concreto, com a voz de um qualquer grupo de "amordaçados" dentro do PS que teriam , nessas declarações individuais, o eco do seu pensamento reprimido.
A verdade não é assim. As declarações de Ventura Leite responsabilizam-no a ele, e só a ele, e o Público sabe que o ex-deputado não representa ninguém, a não ser ele próprio.
Lamento que se faça este tipo de jornalismo. E que haja quem se preste a alimentá-lo.
1 comentário:
Resta saber ao fim de quantos contactos com militantes socialistas o Público conseguiu encontrar essa opinião para poder ter título.
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